Panorama
O suicídio de pastores, e filhos de líderes cresce e preocupa, tendo sido até batizado de “onda de suicídios”, mesmo não sendo algo novo. Há registros bíblicos de líderes como Sansão, Saul e Judas que tiraram suas vidas. Van Gogh, que além de pintor foi pastor, é um dos mais famosos a aplicar a pena capital contra si mesmo.
Nos últimos anos, vários pastores americanos tiraram suas vidas e, assim como no Brasil, o fato passa a ter certa frequência.
O que está acontecendo com os que estão na função de cuidado, mas não conseguem administrar suas próprias demandas? Por que pessoas que já ajudaram a tantos, desistem da própria vida? De acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afetou negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo”.
No documento “STATISTICS ON PASTORS: 2016 UPDATE” produzido pelo mesmo instituto outros dados revelam o estado emocional em que líderes religiosos se encontravam em 2016: “35% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 43% se dizem estressados, 34% sentem-se “sempre desencorajados”, 24% acham que seu trabalho tem efeito negativo na família e 58% dizem não ter amigos bons e verdadeiros. 50% lidam com algum problema de saúde e mais da metade (52%) sentem-se incapazes de satisfazer as expectativas da igreja. Esses são dados de 2016 e aparentemente a situação não melhorou. Pelo contrário, no mundo inteiro os casos de depressão aumentaram e isso por certo atingiu também os pastores e líderes religiosos.
Motivos
A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes, é a depressão associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos.
Sim, pastores têm poucos amigos, e às vezes nenhum. Isso é visível em reuniões nas quais a maioria conta proezas, sucessos, vitórias e conquistas na presença dos demais, num clima de competição para mostrar que possui êxito no exercício ministerial. Entretanto, quando a conversa é íntima, o sofrimento se revela. Boa parte está cansada, desanimada, chateada com a igreja e com a liderança. Muitos possuem dificuldades no cuidado com a família e as finanças de alguns estão desequilibradas.
Isso acontece, em parte, porque pastores contemporâneos são cobrados como executivos ou técnicos de clubes de futebol, que precisam oferecer resultados numéricos às suas instituições. Caso contrário perdem seus membros, emprego, salário, moradia e sustento da família. É uma pressão enorme sobre os ombros de um ser humano.
A figura do pastor-pai-cuidador está escassa; aquele que expõe a Palavra à comunidade-família, aconselha os que sofrem e cuida dos enfermos e das viúvas. Há uma crise de identidade funcional entre o chamado pastoral e as exigências do mercado religioso institucional.
ESGOTAMENTO FÍSICO E EMOCIONAL:
Descanso e saúde:
– Trabalho e descanso marcam um ritmo vital
São atitudes complementárias
Uma iniciativa humana que se articula complementarmente através do “descanso” com a natureza própria da vida
– Quando o homem descansa, ele não interrompe sua tarefa vital, apenas a significa
Outorga um sentido – trabalha confiante que sua tarefa é um prolongamento de uma bondade que se afirma no próprio Deus
O trabalho do homem não se assegura em um rendimento transacional, mas em uma mutualidade originada na doação do tempo que cada um de nós recebe com um presente.
– Descansar é um comportamento que surge de estar existencialmente “confiado”:
Crer que cada um faz o que faz a partir de uma “boa vontade”, ou seja, da própria espontaneidade da vida
É deixar que a beleza da rosa o atravesse, enquanto se trabalha e criar com o martelo que labora os ritmos de descanso que o florescer da rosa convida
Descansar é imprescindível para uma vida saudável:
Descansar significa “ser capaz de distanciar-se daquilo que nos torna obsessivos”
Esta disposição está ligada à nossa corporalidade e é independente de nossa vontade – não pode ser fabricado, apenas chega a nós
O descanso é aquilo que nos faz dormir em paz
As manobras da sociedade de consumo:
A tentativa de descanso através da “prótese”: excesso de álcool, tranquilizantes, compulsões (do turismo merecido até a religião tóxica, passando por uma sexualidade de performance)
O descanso é como uma visita que realça a hospitalidade própria do amor, criando uma nova fecundidade onde o cansaço havia obscurecido a esperança
Em síntese: descansar é RE-VIVER!
Pastor Precisa de Cuidados
O ser humano chamado ‘pastor’ precisa de cuidado. Ao lidar com as mais variadas situações e atender os mais diferentes problemas, seu desgaste emocional é muito grande e por vezes nem ele percebe o quanto está enfermo de suas emoções e o quanto precisa de ajuda. Sabemos que esse processo de ajudar não é simples e inclusive exige que o pastor queira ser ajudado, o que nem sempre acontece. Mas, existem algumas boas práticas que ajudam indiretamente e promovem o bem-estar emocional dos pastores. Tais práticas não exigem profissionalismo e sim amor, preocupação e atenção por parte da igreja. Talvez esteja na igreja a receita de saúde para os pastores.
FALTA DE AMIGOS:
Pastores têm poucos amigos, às vezes nenhum.
Em reuniões exclusivas para pastores, a maioria conta proezas, sucessos, vitórias e conquistas na presença dos demais, num clima de competição para mostrar que possui êxito no exercício ministerial.
Na conversa íntima dos consultórios, o sofrimento se revela.
Pastores contemporâneos são cobrados como – e muitos se sujeitam a ser – executivos que precisam oferecer resultados numéricos às suas instituições.
Há uma relação circular perversa de falso significado de sucesso: pastor e instituição se conluiam em uma rota autodestrutiva
A figura do pastor-pai-cuidador está escassa; aquele que expõe a Palavra à comunidade-família, aconselha os que sofrem e cuida dos enfermos e das viúvas.
Há uma crise de identidade funcional entre o chamado pastoral e as exigências do mercado religioso institucional.
Valorização pública do pastor
Pastores não precisam e não querem fãs e nem bajulação. Mas, isso não significa que não precisem e queiram valorização. O mundo corporativo tem investido cada vez mais na valorização de seus funcionários por perceber que o reforço emocional positivo produz efeitos fantásticos em produtividade e compromisso. A valorização do pastor traz efeitos semelhantes. Por sua posição pública, a valorização deve igualmente ser pública. Uma palavra de encorajamento, um mimo, um reconhecimento que custe caro à igreja darão ao pastor a sensação de que ele é importante, e que vale a pena seu desgaste em favor do Reino e daquelas pessoas a quem ministra. Infelizmente algumas igrejas foram doutrinadas a não valorizarem seus pastores para que não se tornassem “vaidosos.” Se um ou outro pastor se torna vaidoso, isso é uma fraqueza emocional daquele pastor em particular. Pastores precisam do reforço emocional positivo para que se sintam reconhecidos, e isso não é pecado, antes, uma demonstração de amor, que tem efeitos não apenas na vida do pastor, mas de toda a sua família. Datas comemorativas, participação em eventos de valor não apenas teológico, mas também lúdico, podem gerar um entusiasmo que se transformará em benefícios para a própria igreja local.
Oferecer Segurança ao Pastor
Na pirâmide de hierarquia das necessidades de Maslow encontramos na base as necessidades fisiológicas. Logo em seguida temos a necessidade de segurança, e aqui algumas igrejas já falham por não atentarem para pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Ninguém – nem mesmo o pastor – trabalha com alegria e entusiasmo se sentir-se inseguro. E muitas igrejas sem perceber criam um ambiente de insegurança constante ao pastor – e até para sua família – quando por meio de exigências descabidas e críticas excessivas fazem o pastor cobrar-se constantemente e encher-se de culpa por tudo, levando-o a pensar se na próxima assembleia ou reunião da liderança será demitido. Alguns pequenos gestos podem dar ao pastor muita segurança no desempenho do ministério. Oferecer um feedback amoroso e respeitoso, poupar o pastor de desgastes desnecessários, trabalhar lado a lado em parceria e outras pequenas ações dão segurança. E aqui vale a pena lembrar das condições de trabalho. A igreja deve ser educada a dar o melhor para o pastor e não o pior. Honrar o pastor nesse sentido é valorizar o ministério pastoral e o homem pastor.
Reconhecer a humanidade do pastor
Pastores não são anjos: são pessoas. Eles acertam e erram. São falhos, mas também realizam coisas incríveis. São como qualquer outro ser humano. Sua chamada e vocação não os transforma em seres “ultra-humanos” ou “sub-humanos.” Quando a igreja reconhece a humanidade do pastor a partir de seus líderes, ela pode finalmente desconstruir o mito pastoral – que não é ensinado na Bíblia – e construir uma referência ministerial, destacando a figura do servo dedicado e que ouve a voz de Deus, servindo-o com alegria. Reconhecer essa humanidade esbarrará em atitudes práticas como entender os limites de um ser humano no trabalho. A liderança pode – e deve – ensinar a igreja que pastores também precisam de horário para suas rotinas pessoais e de sua família. É bem verdade que parte da culpa do mito pastoral é dos próprios pastores, que não tiveram a coragem de admitir sua humanidade. Quiseram ser mais fortes do que o próprio Jesus, que se fez homem e abraçou a humanidade em toda sua realidade. Esse é um trabalho lento, depende do pastor e liderança, mas pode ser construído em um ambiente de amor e graça.
Tratar as doenças emocionais sem preconceito
Se o pastor apresentar sinais de depressão, então é momento de a liderança agir com rapidez, auxiliando-o na escolha de um profissional adequado e oferecendo ajuda, companheirismo e compreensão. Vários pastores esconderam a depressão por muito tempo e quando foram se tratar já era tarde demais. A liderança da igreja não deve esconder a enfermidade do pastor nem tão pouco expor as fragilidades do pastor em público. Um período de licença pode ajudar nesse processo. E absorver tarefas pastorais também ameniza o peso desse momento. Tratando-se adequadamente, o pastor experimentará cura e poderá novamente seguir em seus desafios ministeriais.
Em pleno “Setembro Amarelo”, mês de conscientização sobre o suicídio, a igreja é desafiada a considerar a realidade de vida de seus pastores, enxergando-os como seres humanos e oferecendo aquilo que qualquer ser humano precisa: o companheirismo de outro ser humano. E, em nosso ambiente de igreja, somemos a isso a verdadeira comunhão cristã, o verdadeiro amor e “a paz de Deus, para a qual também fomos chamados em um corpo” (Colossenses 3:15).
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